sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Beleza de Aspasia

    Admirava-se Sócrates de que os encantos de Aspasia lhe roubassem uma grande parte dos seus discípulos.
 
    Quis conhecer de visu de tão irresistível atractivo, e dirigindo-se a casa da afamada cortesã, interrogou-a a tal respeito. Ela respondeu-lhe…com um sorriso. O sábio, então, tudo compreendeu.
  
    A graça com que a celebre hetaira prodigalizava sorrisos aos que se lhe aproximavam, angariava-lhe mais adoradores, do que todos os outros encantos da sua preconizada formosura.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Juízes e Advogados

    Eis como um antigo escritor descreveu as funções de uns e de outros que são em tudo opostas:

    “O juiz trabalha a descobrir a verdade. O advogado trabalha a oculta-la, ou a disfarçá-la: O Juiz procura o meio-termo. Que é aonde reside a equidade. O advogado busca os extremos. O juiz deve ser severo, rígido inflexível. O advogado busca convém ser brando flexível, complacente para entrar em sentimentos do seu cliente e defender-lhe a causa. O juiz deve ser constante, uniforme, invariável, marchando na mesma linha. O advogado deve variar, amoldar-se, tomar todas as formas. O juiz não deve ter paixões. O advogado procura excitá-las, e mostrar-se apaixonado pela causa que defende. O juiz não deve ter em linha recta o fiel da balança, e esta em equilíbrio. O advogado lança pesos numa das conchas para fazer descer.

    O juiz em suma, está armado do gladio e o advogado busca desarmá-lo.”

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Uma Inimiga do Casamento

    Num dos boletins da Câmara de Comércio Francesa de Nova – York, vem a notícia de que uma certa Mrs. Bertha Ortoil ter fundado, nos estados Unidos da América, uma liga destinada a conseguir que o governo lançasse sobre todos os casamentos um imposto de 500 dólares. A americana que assim se apresentava como tão figadal inimiga dos casamentos, fundamentava a sua pretensão no seguinte raciocínio: há demasiada facilidade em nos casarmos e em nos descasarmos. Por isso, seria conveniente obrigar os aspirantes a maridos ou a esposas a pensarem bem no que vão fazer…

    Ora, para pensarem devidamente, nada melhor que a perspectiva de terem que pagar 500 dólares por uma hipotética felicidade. Esses 500 dólares certamente teriam evitado muitas lágrimas, gritos, muitas vidas estragadas, muitas almas destroçadas!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A Virtude

    Sócrates perguntou um dia a Menon o que era a Virtude.
    Menon respondeu-lhe:
    “Há uma virtude do homem e uma da mulher, do homem público e do homem particular, da criança e do velho”.
    E Sócrates respondeu-lhe:
    “Ando em busca de uma virtude e tu apresentas-me um conjunto delas…”
12-44

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Castigar

    Por se ignorar muitas vezes a causa da serena atitude de pessoa que foi maltratada por outra, aparece logo a esvoaçar, dum lado para o outro, um bando de adjectivos, tais como “cobarde” e “medroso”, contra o ofendido que não teve a “ousadia, a dignidade própria de um homem…”.


   “Já Sócrates nos dava o exemplo duma elementar superioridade ao afirmar que nunca pensaria em recorrer aos juízes por qualquer pseudo racional.” (Mário Monteiro: “Do crime”.)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Má Língua -

É uma prenda muito conhecida e pouco combatida, porque é possuída por muita gente.

A má língua faz tudo quanto de mau se pode imaginar: desfaz boas reputações, lança a desarmonia nas famílias, faz nascer a dúvida; robustece a confusão, contribui para o crime.
Infelizmente, é caso raro castigar-se, devidamente, quem é useiro e vezeiro na invenção e propagação de mentiras, intrigas e calúnias.

Há criatura que, não possuindo uma simples pálida sombra de dignidade, inventa as mais extravagantes e criminosas mentiras contra quem não lhe agrada. Garante-as sob sua palavra de honra ou evocando a verdade quer verbal quer por escrito, e, pronto, o caluniado que se aguente com as consequências da invenção: que se equilibre, se poder…

Moliére, conhecendo o perigo da calúnia, escreveu: “Não há protecção contra a calúnia”.

“ Nenhuma espada corta tão cruelmente como uma má língua”, disse Sibley.

Gay escreveu: “detesto o homem que constrói o seu nome sobre as ruínas da fama doutra”.

Um crítico chamado Fiorentino (podia ser Fedorentino) que nada se perderia) depois de ter “amavelmente extorquido a Meyerbeer mil francos por ocasião de uma ópera, como não conseguisse obter mais de quinhentos dias antes da primeira representação duma outra, teve o desgarre de escrever que a nova partitura valia metade da precedente do mesmo compositor”.

Fiorentino tinha mais queda, vocação, para a maledicência do que para a dificílima arte de criticar. Com a sua má acção, nada conseguiu contra o célebre autor de “A África”, notável trabalho de ópera cujo principal personagem é o português Vasco da Gama, porque o que é bom não desaparece.

   Meyerbeer, ficou conhecido pelo brilho que deixou nas suas composições; Fioentino, pelo seu mau carácter.

“Esse indivíduo, que abusa do tribunal para manchar a dignidade dos outros é um inimigo público que a lei deve tomar logo sob a sua alçada, castigando-o, independentemente da acção particular”. “Ouvi dizer” ou “Ofensas à honra alheia nos tribunais”, é o que encima o artigo donde respingamos o que acabamos de transcrever. É seu autor o dr. Carlos Babo, advogado e jornalista.

Em “Os Miseráveis “ de Victor Hugo, lemos que em “… uma cidade pequena, é maior o número de bocas que falam do que cabeças que pensam.”

“Homero disse: “Um coração generoso repara uma língua caluniadora”.
“Mas Homero enganou-se, Nem pouca nem muita generosidade, ou boa índole pode compensar os terríveis efeitos do mexerico e da calúnia, repetir mexericos e acrescentar “mas não acredito” não abranda o crime do caluniador. Simplesmente, mostra timidez.”

Homens de inteligência, evitam a calúnia e o mexerico, porque as verdadeiras inteligências desprezam os dois defeitos.”


“ A inteligência evita o mexerico, também, porque o mexerico é vício próprio de quem tem pouco entendimento.”

Paulo de Mantegazza refere: “Nas sociedade pouco ou nada cultas, e onde só se depara uma aparência de civilização, os mexericos são a substância comum de todas as conversações.

Em várias regiões do Brasil e de Portugal se costuma ouvir:
“Queres um conselho? O melhor é não fazer caso, deita ao desprezo.”