É uma prenda muito conhecida e pouco combatida, porque é possuída por muita gente.
A má língua faz tudo quanto de mau se pode imaginar: desfaz boas reputações, lança a desarmonia nas famílias, faz nascer a dúvida; robustece a confusão, contribui para o crime.
Infelizmente, é caso raro castigar-se, devidamente, quem é useiro e vezeiro na invenção e propagação de mentiras, intrigas e calúnias.
Há criatura que, não possuindo uma simples pálida sombra de dignidade, inventa as mais extravagantes e criminosas mentiras contra quem não lhe agrada. Garante-as sob sua palavra de honra ou evocando a verdade quer verbal quer por escrito, e, pronto, o caluniado que se aguente com as consequências da invenção: que se equilibre, se poder…
Moliére, conhecendo o perigo da calúnia, escreveu: “Não há protecção contra a calúnia”.
“ Nenhuma espada corta tão cruelmente como uma má língua”, disse Sibley.
Gay escreveu: “detesto o homem que constrói o seu nome sobre as ruínas da fama doutra”.
Um crítico chamado Fiorentino (podia ser Fedorentino) que nada se perderia) depois de ter “amavelmente extorquido a Meyerbeer mil francos por ocasião de uma ópera, como não conseguisse obter mais de quinhentos dias antes da primeira representação duma outra, teve o desgarre de escrever que a nova partitura valia metade da precedente do mesmo compositor”.
Fiorentino tinha mais queda, vocação, para a maledicência do que para a dificílima arte de criticar. Com a sua má acção, nada conseguiu contra o célebre autor de “A África”, notável trabalho de ópera cujo principal personagem é o português Vasco da Gama, porque o que é bom não desaparece.
Meyerbeer, ficou conhecido pelo brilho que deixou nas suas composições; Fioentino, pelo seu mau carácter.
“Esse indivíduo, que abusa do tribunal para manchar a dignidade dos outros é um inimigo público que a lei deve tomar logo sob a sua alçada, castigando-o, independentemente da acção particular”. “Ouvi dizer” ou “Ofensas à honra alheia nos tribunais”, é o que encima o artigo donde respingamos o que acabamos de transcrever. É seu autor o dr. Carlos Babo, advogado e jornalista.
Em “Os Miseráveis “ de Victor Hugo, lemos que em “… uma cidade pequena, é maior o número de bocas que falam do que cabeças que pensam.”
“Homero disse: “Um coração generoso repara uma língua caluniadora”.
“Mas Homero enganou-se, Nem pouca nem muita generosidade, ou boa índole pode compensar os terríveis efeitos do mexerico e da calúnia, repetir mexericos e acrescentar “mas não acredito” não abranda o crime do caluniador. Simplesmente, mostra timidez.”
“Homens de inteligência, evitam a calúnia e o mexerico, porque as verdadeiras inteligências desprezam os dois defeitos.”
“ A inteligência evita o mexerico, também, porque o mexerico é vício próprio de quem tem pouco entendimento.”
Paulo de Mantegazza refere: “Nas sociedade pouco ou nada cultas, e onde só se depara uma aparência de civilização, os mexericos são a substância comum de todas as conversações.
Em várias regiões do Brasil e de Portugal se costuma ouvir:
“Queres um conselho? O melhor é não fazer caso, deita ao desprezo.”